segunda-feira, 16 de julho de 2018

INCLUINDO OS INCLUÍDOS: uma conversa sobre o
bullying 
Paulo Cezar Borges MartinsDoutor em Sociologia pela UnBProfessor da UESB
Quem não chegou em casa, depois de um dia estressante, e teve de ouvir as queixas de que seu filho está indo mal na escola? Mais do que isso, diasdepois, no meio do expediente, teve de comparecer à escola do menino, onde adiretora, a coordenadora e a orientadora educacional cobraram-lhe a fatura domau desempenho acadêmico de sua criança, sem que lhe tivessem prestadoqualquer tipo de esclarecimentoNo ximoinformaram quelperdeu ointeresse pelas aulas, anda desatento e não faz os deveres de casa e que, por isso, as notas despencaram. No final, sem mais, chegam a insinuar que algumacoisa deve estar indo mal em sua casa. Afinal, o fulaninho era tão bom aluno...Aí, então, você começa a notar que seu filho tem andado meio triste,inapetente, queixando-se de dores de cabeça ou estômago, sempre buscando umpretexto para não ir ao colégio. Além disso, prestando mais atenção, vão surgindoalguns detalhes até ali insignificantes, mas que, somados, parecem indicar algumacoisa que você não sabe bem o que é. Por exemplo: quando ele volta da aula, seuuniforme está sempre sujo, amarrotado e, às vezes, com rasgões; ele mesmofreqüentemente se machuca, vem com arranhões, pequenos hematomas etc.; seumaterial escolar nunca está completo, pois ele sempre perdeu algum item.O pediatra pede exames e conclui, invariavelmente, que o menino estábem. Resultadovocê vaprocurar aquela famosa psicóloga qutratou dasobrinha de sua colega de trabalho. O que é, aliás, muito acertado, pois suacriança pode estar mostrando que anda com auto-estima baixa.Bem, antes que você assuma a culpa e corra para um psicanalista (talvez,até precise, mas por outros motivos), pare e pense. Você não tem obrigação deinterpretar todos esses sinais, assunto, aliás, da competência de profissionais,mas seu filho pode estar sendo vítima de uma forma muito comum de violência naescola, o
bullying 
. Segundo os especialistas, este é o nome do fenômeno demaltrato e intimidaçãentre escolares. Bem, não fique aí parado, vá à internet e,com qualquer mecanismo de busca, entre com aquela palavrinha. Para facilitar 
 
sua vida, passo aqui dois endereços muito úteis, o da ABRAPIA – AssociaçãoBrasileirMultiprofissionadProteçãà InfânciAdolescência:www.abrapia.org/homepage/bullying/Bullying.html; do BullyinEscolar:www.bullying.net .Embora o termo seja novidade, a prática do
bullying 
deve ser tão antigaquanto as escolas. Ela consiste em maltratos verbais, através de gozações e deapelidos indesejáveisalém de acusaçõesinsultos, ofensas, humilhações,agressões morais por meio de comentários maldosos, ataques à propriedade,discriminações, podendo chegar a agressões físicas e sexuais. Os agressores,pasme, são os próprios coleguinhas de seu filho. Por isso, nem entre em pânicopensando em adultos pedófilos, pois não é o caso.O
bullying 
vistpelalentes da Sociologia, tem tudo vecommecanismos de exercício do poder nos grupos infanto-juvenis; é ferramenta óbviade controle social dos mais fortes sobre os que apresentam alguma debilidade. Ostímidos, os que têm dificuldades de coordenação motora, os inábeis nos esportes,são algumas das vítimas preferenciais dos valentões de plantão nos pátios derecreio e até nas salas de aula.Acima de tudo, converse com seu filho, demonstre seu afeto e faça-o sentir que ele é importante para você. Procure incentivá-lo a falar do clima na escola epasse esses dados para o profissional que estiver dando-lhe apoio. Mas não fiquesó nisso, vá à luta. Saiba que o
bullying 
é modalidade de assédio moral (nãoconfunda com assédio sexual, por favor) e, por essa razão, pode ensejar areparação por danos morais em juízo. Cobre a responsabilidade da escola, quetem o dever de zelar pela integridade física e psicológica dos estudantes que sãoconfiados à sua guarda e que, por isso, tem que desestimular, inibir e reprimir taispráticas, cujos resultados são sempre danososcomproblemas somáticos,traumas psicológicos, perda de auto-estima, estresse, depressão, podendo levar ao suicídio.Não fique sozinho, mobilize o apoio de pais de outras de vítimas (seu filhosabe quem são), peça auxílio ao Conselho Tutelar da Infância e Adolescência,denuncie ao setor competente do Ministério Público. Lute pela inclusão!
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