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UGANDA É AQUI. A UGANDA NÃO DEVE SER AQUI
Em 2013, o documentarista
norte-americano Roger Ross Williams entregou o seu filme God Loves Uganda sobre
a tragédia do avanço de fundamentalistas cristãos ocidentais na África, impondo
sobre as populações nativas valores totalmente incompatíveis com suas culturas.
Para tanto, valem-se do lado humanitário das missões, qual seja, distribuição
de alimentos, roupas, medicamentos, cujo impacto deve ser enorme na vida de
pessoas que sobrevivem debaixo de condições subumanas, atentatórias à dignidade
da pessoa humana.
Do ponto de vista da violência
simbólica, não há diferença entre os acontecimentos na terra do Idi Amin Dada e
a ação do grupo islâmico Boko Haram na Nigéria. Os evangélicos norte-americanos
não praticam (?) atos de terrorismo, mas o conteúdo de sua pregação não é
diferente daquilo que pregam os muçulmanos radicais.
E no Brasil? Pentecostais estão
invadindo aldeamentos indígenas para impor suas crendices em prejuízo das tradições
dos povos autóctones. E aí se desenha uma equação complicada. Para aprovar seus
projetos no parlamento, o executivo conta com os votos dos deputados
ruralistas, que vivem de olho nas terras dos índios; mas para usurpar a T.I. o
governo tem se valido da ocupação pentecostal das aldeias, angariando também os
preciosos votos da bancada desses cristãos, mediante uma política que fecha os
olhos ao etnocídio. Há quem diga que os fundamentalistas estão nas comunidades
a pedido dos próprios índios, o que é verdadeiro, mas criminosamente escondem
que as igrejas nadam no assistencialismo mais chão, levando comida e outros
bens para um contexto em que as pessoas estão sendo massacradas pela fome,
doença e outras mazelas. Claro que esse trabalho é regado com dinheiro público
e dólares das fundações americanas, testas de ferro de seu empresariado.
Nesse sentido, a recente decisão do
supremo, pondo fim a uma ação proposta pelo PFL/DEM, que, assim soma duas
derrotas de suas investidas antipovo, primeiro, contra as cotas, agora contra a
demarcação das terras ancestralmente ocupadas pelas nações indígenas. Essa
vitória pode ser um bom instrumento de defesa do índio, hoje muito mais
consciente do poder de aglutinação e pressão de suas organizações.
Em
suma, uma coisa deve estar presente na mente de todos os progressistas no
Brasil: quem tem que falar pelo índio é o próprio índio.