MÃE STELLA DE OXÓSSI
Houve um tempo na história das Ciências
Sociais, em que, sob o argumento da objetividade científica, muitos estudiosos,
após passarem longos períodos em aldeias indígenas, onde eram alimentados,
cuidados pelos seus hospedeiros, e mais do que isso, autores do conhecimento,
permaneciam então aprisionados na condição de objetos. O desinteresse era tal
que, findo o trabalho de campo, os acadêmicos simplesmente abandonavam os
autóctones, pouco se importando com suas precárias condições de existência, o
que, no Brasil, se agrava pela problemática da grilagem de terras, absurdo que
também incide, mutatis mutandis,
sobre as comunidades de terreiro nas cidades, vítimas da voraz especulação
promovida pelos agentes do capital imobiliário.
Nos dias correntes, modificou-se o olhar do
pesquisador, contexto em que os componentes das populações indígenas, assim
como das comunidades de terreiro, conquistaram o reconhecimento no mundo
universitário o lugar de sujeitos da pesquisa, verdadeiros coautores do
processo de investigação científica. Esse desfecho se deve também à presença de
indígenas, de quilombolas e do povo-de-santo nas salas de aula dos cursos
superiores, até como fruto das políticas de ação afirmativa.
Dentro dessa moldura é que o desaparecimento de
Mãe Stella de Oxóssi nos enluta duplamente, a nós pesquisadores que nos
reunimos no CEPICR- Centro de Estudos e Pesquisas Interdepartamental em
Culturas e Religiões. A uma, por ter sido militante do processo de
reafricanização do candomblé, alargando e enriquecendo a contribuição do
antecessor nessa trilha, o babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim. O
reconhecimento do mundo acadêmico foi proclamado pela concessão do título de
Doutora Honoris Causa pela UNEB- Universidade do Estado da Bahia. A duas, pela
grande líder espiritual do povo negro da Bahia e do Brasil. E, neste
particular, os docentes que também são do candomblé entoam a reza de Oxóssi, a
quem pedem orientação e proteção neste momento tão difícil:
Ìba
Òsòósì
Ìba Òsòósì
Ìba ologarare
Ìba onibebe
Ìba osolikere
Ode ata matase
Agbani nijo to buru
Oni Ode gan fidija
Mo jùbá
Àse
Ìba Òsòósì
Ìba ologarare
Ìba onibebe
Ìba osolikere
Ode ata matase
Agbani nijo to buru
Oni Ode gan fidija
Mo jùbá
Àse