domingo, 30 de dezembro de 2018



MÃE STELLA DE OXÓSSI

Houve um tempo na história das Ciências Sociais, em que, sob o argumento da objetividade científica, muitos estudiosos, após passarem longos períodos em aldeias indígenas, onde eram alimentados, cuidados pelos seus hospedeiros, e mais do que isso, autores do conhecimento, permaneciam então aprisionados na condição de objetos. O desinteresse era tal que, findo o trabalho de campo, os acadêmicos simplesmente abandonavam os autóctones, pouco se importando com suas precárias condições de existência, o que, no Brasil, se agrava pela problemática da grilagem de terras, absurdo que também incide, mutatis mutandis, sobre as comunidades de terreiro nas cidades, vítimas da voraz especulação promovida pelos agentes do capital imobiliário.
Nos dias correntes, modificou-se o olhar do pesquisador, contexto em que os componentes das populações indígenas, assim como das comunidades de terreiro, conquistaram o reconhecimento no mundo universitário o lugar de sujeitos da pesquisa, verdadeiros coautores do processo de investigação científica. Esse desfecho se deve também à presença de indígenas, de quilombolas e do povo-de-santo nas salas de aula dos cursos superiores, até como fruto das políticas de ação afirmativa.
Dentro dessa moldura é que o desaparecimento de Mãe Stella de Oxóssi nos enluta duplamente, a nós pesquisadores que nos reunimos no CEPICR- Centro de Estudos e Pesquisas Interdepartamental em Culturas e Religiões. A uma, por ter sido militante do processo de reafricanização do candomblé, alargando e enriquecendo a contribuição do antecessor nessa trilha, o babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim. O reconhecimento do mundo acadêmico foi proclamado pela concessão do título de Doutora Honoris Causa pela UNEB- Universidade do Estado da Bahia. A duas, pela grande líder espiritual do povo negro da Bahia e do Brasil. E, neste particular, os docentes que também são do candomblé entoam a reza de Oxóssi, a quem pedem orientação e proteção neste momento tão difícil:
Ìba Òsòósì
Ìba Òsòósì
Ìba ologarare
Ìba onibebe
Ìba osolikere
Ode ata matase
Agbani nijo to buru
Oni Ode gan fidija
Mo jùbá
Àse