terça-feira, 23 de junho de 2015

BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE A ÉTICA NA POLÍTICA

Há mais de 60 anos que, no Brasil, a responsabilidade pela pobreza do debate político cabe aos conservadores que, na condição de proprietários dos mass media, estão em condições de impor sua visão de mundo à opinião pública.  Dessa maneira, o que é apenas um dos possíveis ângulos, o que está afinado com os interesses dos donos do capital, dentro de um contexto maior formado por múltiplas correntes de pensamento, termina, assim, sendo guindado à posição de centralidade, deslocando para a moral pública as atenções gerais, daí tentando ungir com o status de teoria o discurso segundo o qual a corrupção dos políticos seria o grande problema nacional, na condição de maior obstáculo ao desenvolvimento.
Na Antiguidade, está em Aristóteles um dos pontos altos da reflexão sobre a moral na política, inteligentemente destilada em sua, agora sim, teria das formas de governo, variando estas das boas às degeneradas em função dos interesses de quem exerce o governo; boas serão aquelas em que se age na direção do bem comum; degeneradas, quando, ao revés, o interesse comum for subjugado pelo interesse dos próprios exercentes do mando político. Ao conceber sua tipologia o estagirita afetou-a também pelo número de governantes, de tal modo que o governo bom de um, a monarquia, pode transmutar-se na sua forma degenerada, a tirania; assim como o bom governo de poucos, a aristocracia, pode decair em oligarquia; por derradeiro, o governo bom de muitos democracia, mas que no original era politeia, pode degenerar em demagogia.
Ocupou-se Maquiavel, entre outros, na Modernidade de estabelecer a diferença entre a moral individual e a moral do político. Esta teria sua  raison d’être no amor à cidade, cuja defesa pode exigir até o sacrifício mais radical, o da própria vida. Assim, no domínio do público, esse compromisso pode levar a condutas descabidas no plano das relações da vida privada, necessárias, porém, na defesa de seu país, como, por exemplo, espionar a vida do outro, não existindo, por isso, Estado sem seus serviços de inteligência.
Um dos pais-fundadores da Sociologia, ÉMILE DURKHEIM, propunha que a ausência de disciplina econômica projetava reflexos além do seu mundo, acarretando diminuição da moralidade pública, ou anomia moral, fonte de todos os problemas da nação. Sua fonte inspiradora estava em Juvenal (55-127 dC), certamente influenciado por Aristóteles, para quem a degenerescência moral seria a raiz das vicissitudes de Roma.
Por sua vez, tanto para MAX WEBER, como para HANNAH ARENDT, a regulação ética da política constituiu tema relevante e, por isso mesmo, merecedor de suas preocupações. No entanto, divergiram no tratamento que deram a essa questão.
Para ambos, submeter-se cegamente aos imperativos do mundo é moralmente ruinoso. E aqui acabaria sua concordância, pois, para WEBER, nisso incorreriam o consumista, o especialista sem espírito e o fugitivo intelectual, todos eles imersos em servidão, destituídos de liberdade, de paixão, de responsabilidade; ao passo que, para ARENDT, aí estaria enquadrado todo aquele que se entrega excessivamente à ação, abrindo mão do pensamento, portanto sem clarividência, sem imaginação.

Como forma de enfrentar os perigos dessa situação, WEBER enfatizou a construção da personalidade autônoma, quando o indivíduo tem consciência de suas ações e assume sua responsabilidade por elas, precisamente o caso do político por vocação; ARENDT reivindicou a construção do diálogo interior, como forma de ter regras de consciência.

terça-feira, 2 de junho de 2015

TORMENTO DE UMA GREVE

Nestes 11 anos de magistério público superior, já passei por várias greves. Para determinados segmentos da opinião pública, os legítimos movimentos de pressão do trabalhador para fazer valer seus direitos são taxados de baderna ou busca de ociosidade. Nada mais enganoso.
Como é tensa a abertura de espaços para negociação com os governantes, assim como é penosa a expectativa das decisões, sempre retardadas e insatisfatórias. O que precisa ficar claro, por outro lado, é que os professores não são responsáveis pelo estado das finanças baianas; por essa mesma razão, é que não é justo que arquem sozinhos com o ônus da formação do superávit nas contas públicas. Há muita gordura para queimar no legislativo e no judiciário.
Por outro lado, nossas universidades vêm sendo sucateadas ao longo do tempo. Equipamentos que não funcionam mais, laboratórios inoperantes, instalações prediais deterioradas, e, principalmente, falta de recursos para permanência de nossos estudantes. Além disso, ainda custeamos dos nossos bolsos sacrificados boa parte dos gastos das pesquisas.
Queremos transparência e seriedade das autoridades do governo nas negociações.