segunda-feira, 16 de abril de 2018


RELIGIOSIDADE AFRICANA: outras leituras
Apesar de muitas confissões religiosas, e não somente as cristãs, possuírem seu textos sagrados, como o Corão, os Vedas, o Guru Grant Sahib, o Tanakh, os Analectos, isso não pode ser considerado como regra geral. Muitos credos não os têm. Precisamente é o caso das religiões de matriz africana no Brasil, não obstante sua especificidade.
No Candomblé, tem grande importância a tradição oral. No espaço reservado do roncó, onde as abiãs dão o primeiro passo em sua iniciação, são-lhes passadas as narrativas essenciais pelos mais velhos[1]. No passado, utilizava-se o yorubá. Trata-se de um conhecimento milenar, já veio com os africanos escravizados, passado de geração em geração. Em algumas casas, aquela memória se perdeu, por isso o professor de Antropologia Reginaldo Prandi, da USP, reuniu-as em obra escrita, com o título Mitologia dos Orixás, cuja primeira edição saiu pela Companhia das Letras, no ano de 2001.
No geral, o candomblé preza como livro a natureza em suas diferentes manifestações. É na crença da santidade dessa leitura que nosso culto se produz e se reproduz. Sendo religião de fundo animista, nossos Orixás não são espírito de pessoas que já viveram no passado, mas forças naturais personificadas.
Tendo como ponto de partida essa alternatividade da leitura, as religiosidades das confissões, por  não conterem um livro sagrado, mas, em lugar deste, voltarem suas atenções para a natureza, é que se deve rejeitar como eurocêntrica e racista decisão de juiz federal no Rio, que nos negou a condição de religião, entendimento este repudiado pelo respectivo TRF.


[1] O candomblé se organiza em torno de dois princípios: o da autoridade e o da senioridade, deste deflui a importância dos mais velhos no culto


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