RELIGIOSIDADE
AFRICANA: outras leituras
Apesar
de muitas confissões religiosas, e não somente as cristãs, possuírem seu textos
sagrados, como o Corão, os Vedas, o Guru Grant Sahib, o Tanakh, os Analectos,
isso não pode ser considerado como regra geral. Muitos credos não os têm.
Precisamente é o caso das religiões de matriz africana no Brasil, não obstante
sua especificidade.
No
Candomblé, tem grande importância a tradição oral. No espaço reservado do
roncó, onde as abiãs dão o primeiro passo em sua iniciação, são-lhes passadas
as narrativas essenciais pelos mais velhos[1]. No passado, utilizava-se
o yorubá. Trata-se de um conhecimento milenar, já veio com os africanos
escravizados, passado de geração em geração. Em algumas casas, aquela memória
se perdeu, por isso o professor de Antropologia Reginaldo Prandi, da USP,
reuniu-as em obra escrita, com o título Mitologia dos Orixás, cuja primeira
edição saiu pela Companhia das Letras, no ano de 2001.
No
geral, o candomblé preza como livro a natureza em suas diferentes manifestações.
É na crença da santidade dessa leitura que nosso culto se produz e se reproduz.
Sendo religião de fundo animista, nossos Orixás não são espírito de pessoas que
já viveram no passado, mas forças naturais personificadas.
Tendo
como ponto de partida essa alternatividade da leitura, as religiosidades das
confissões, por não conterem um livro
sagrado, mas, em lugar deste, voltarem suas atenções para a natureza, é que se
deve rejeitar como eurocêntrica e racista decisão de juiz federal no Rio, que nos negou a condição de religião, entendimento este repudiado pelo respectivo TRF.
[1] O candomblé se organiza em torno de
dois princípios: o da autoridade e o da senioridade, deste deflui a importância
dos mais velhos no culto
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