Quem
fez curso na área de Humanidades/Ciências Sociais Aplicadas, ali pela década de
1980, aprendeu, com Leo Huberman, a importância da Igreja Católica, enquanto
detentora do monopólio de ideias associadas à produção e reprodução do
feudalismo. O clero de então era estamento poderoso no sistema de estratificação
social então vigente.
Na
modernidade, tal monopólio foi abalado com a Reforma iniciada por Lutero, no início
do século XVI, daí nascendo o protestantismo que se expandiu em diversos
movimentos, sendo relevante dentre estes o calvinismo, foco do conhecido estudo
de Max Weber, por inspirar em seus adeptos atitudes e comportamentos que
guardam afinidades eletivas com o desenvolvimento do capitalismo moderno, capazes
de diferenciá-lo de suas formas pretéritas, inovando especificamente no
seguinte: hábitos austeros, vida metódica, temperança, trabalho duro, poupança etc.,
reunindo, em suma, os requisitos psicológicos, como ensinou Hans Gerth, do
dirigente empresarial.
Nos
dias correntes aqui no Brasil, o leque de ofertas de crenças diversificou-se
muito, pois convivem lado a lado com a imensa quantidade de igrejas no
cristianismo, sobretudo no interior do campo protestante, o kardecismo, as confissões
importadas do oriente, budismo, igreja messiânica, sei”cho no iê, mahikari, além
dos principais cultos de matriz afro-brasileira, especialmente o candomblé e a
umbanda.
Diante
dessa multiplicidade, pensando num papel da religião na socidade contemporânea,
escolhi ater-me ao universo do cristianismo, onde, com base nas reflexões do
filósofo espanhol Eugenio Trías pretendo destacar que, no contexto do quadro de
disputa de hegemonia Leste-Oeste, os discursos religiosos, como, por exemplo,
nas igrejas neopentecostais, filhas do bible
belt norte-americano, conclamam seus fieis para uma jihad contra um inimigo
satanizado. Com certeza, muitos ainda se lembrarão da expressão reaganiana império do mal para a então ativa União
Soviética.
A
ideia é simples e figura nos mais lidos manuais de psicologia da publicidade e
propaganda, caso do livro de Roger Mucchielli, para quem Deus precisa do diabo
para existir ou, trocando em miúdos, o maniqueísmo está presente em todo
produto propagandístico, com a mensagem de que “Quem não está conosco, está
contra nós”. Mais analítico, Sergei Tchakhotine divide a propaganda em racio-propaganda,
como os partidos políticos ingleses, que atuam para convencer racionalmente, e
senso-propaganda, apelando esta última para os sentidos que causam emoções,
caso, inegavelmente, da estratégia utilizada pelas igrejas.
Para
fechar nossa conversa, aqui nas terras tupiniquins essa história começou quando
o tal maniqueísmo importado do mundo yankee
passou a vir numa palavra de ordem, segundo a qual tudo o que não for
neopentecostal será do diabo, registrada no livro Orixás, Caboclos e Guias:
deuses ou demônios?, a primeira demonstração da intolerância religiosa contra
as religiões de matriz africana.
Vejo que muitas pessoas usam a religião como forma de controlar a fé dos outros. Isso já chegou ao ponto de ninguém tolerar as crenças de ninguém. Só se acredita nas suas próprias verdades e pronto! Mas o que é verdade mesmo hein? Nesse caos em que vivemos, onde os valores mudam, onde ninguém se respeita e nem respeita mais o Criador, não nos cabe julgar religião de ninguém. Por que os direitos de uns são mais respeitados que os dos outros? Na lei dos homens, onde está a verdade na adoração? Queria que um dia pudesse ter essa resposta.
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