quinta-feira, 2 de julho de 2015

SENSAÇÃO DE VIOLÊNCIA E MÍDIA

Desconheço a produção acadêmica brasileira na área do jornalismo, mas li que na Califórnia houve pesquisas mostrando a relação entre noticiário policial sobre a alta frequência de delitos praticados por jovens e a sensação de insegurança da população. Pois bem, nas entrevistas, os sujeitos da pesquisa diziam temer a violência de adolescentes, nos meses em que os meios de comunicação de massa publicavam matérias sobre aumento da delinquência juvenil. Na mesma ocasião, dados das agências do law enforcement mostravam que essa modalidade infracional, na contramão do que propalavam as mídias, estava em claro descenso.
Não sei se a academia no Uruguai cuidou de investigar a influência midiática no aumento da sensação de insegurança dos cidadãos, porém lá foram regulamentados os horários de exibição de programas mundo cão, semelhantes aos paulistas Datena, Resende e companhia, que lá passaram a ser transmitidos somente depois das 22 horas. É certo que, na sequência dessa medida saneadora, o legislativo uruguaio rejeitou a redução da maioridade penal. Sem o respaldo da pesquisa científica, porém, ainda é prematuro afirmar que aquela decisão congressual, que contou com amplo apoio da população, reflete de alguma maneira a disciplina imposta ao jornalismo sangrento da televisão; não obstante, temos aí uma hipótese a ser explorada.

Parece claro que, no Brasil, a sensação de insegurança está muito mais afetada por outros fatores, destacando-se os 50 mil homicídios/ano que ceifam as vidas de jovens negros moradores em favelas e periferias, como resultado principalmente da política de segurança pública, e isso em dois aspectos. Em primeiro lugar, pela sua concepção errada, que teima em marchar inspirada por uma perspectiva de enfrentamento militar, em que, ao revés, deveria ser priorizada a proteção da população, e não apenas de seu segmento minoritário rico e do próprio Estado. Segundo, pela gestão ineficiente dos aparatos repressivos. Por exemplo, até hoje as autoridades não sabem lidar com o câncer da corrupção policial, quando intelectuais saídos de suas fileiras, como o delegado Orlando Zaconne e o coronel Jorge da Silva, vêm insistindo no caráter estrutural do fenômeno, ou seja, inadmissível reduzi-la àquela manifestação isolada de um mau agente da lei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário