Desconheço
a produção acadêmica brasileira na área do jornalismo, mas li que na Califórnia
houve pesquisas mostrando a relação entre noticiário policial sobre a alta
frequência de delitos praticados por jovens e a sensação de insegurança da
população. Pois bem, nas entrevistas, os sujeitos da pesquisa diziam temer a
violência de adolescentes, nos meses em que os meios de comunicação de massa
publicavam matérias sobre aumento da delinquência juvenil. Na mesma ocasião,
dados das agências do law enforcement
mostravam que essa modalidade infracional, na contramão do que propalavam as
mídias, estava em claro descenso.
Não
sei se a academia no Uruguai cuidou de investigar a influência midiática no
aumento da sensação de insegurança dos cidadãos, porém lá foram regulamentados
os horários de exibição de programas mundo cão, semelhantes aos paulistas
Datena, Resende e companhia, que lá passaram a ser transmitidos somente depois
das 22 horas. É certo que, na sequência dessa medida saneadora, o legislativo
uruguaio rejeitou a redução da maioridade penal. Sem o respaldo da pesquisa
científica, porém, ainda é prematuro afirmar que aquela decisão congressual,
que contou com amplo apoio da população, reflete de alguma maneira a disciplina
imposta ao jornalismo sangrento da televisão; não obstante, temos aí uma
hipótese a ser explorada.
Parece
claro que, no Brasil, a sensação de insegurança está muito mais afetada por
outros fatores, destacando-se os 50 mil homicídios/ano que ceifam as vidas de jovens
negros moradores em favelas e periferias, como resultado principalmente da
política de segurança pública, e isso em dois aspectos. Em primeiro lugar, pela
sua concepção errada, que teima em marchar inspirada por uma perspectiva de
enfrentamento militar, em que, ao revés, deveria ser priorizada a proteção da
população, e não apenas de seu segmento minoritário rico e do próprio Estado.
Segundo, pela gestão ineficiente dos aparatos repressivos. Por exemplo, até
hoje as autoridades não sabem lidar com o câncer da corrupção policial, quando
intelectuais saídos de suas fileiras, como o delegado Orlando Zaconne e o
coronel Jorge da Silva, vêm insistindo no caráter estrutural do fenômeno, ou
seja, inadmissível reduzi-la àquela manifestação isolada de um mau agente da
lei.
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